El reaccionario no es el soñador nostálgico de pasados abolidos, sino el cazador de sombras sagradas sobre las colinas eternas.
"Il n'existe que trois êtres respectables: le prêtre, le guerrier, le poète. Savoir, tuer et créer" - Baudelaire
terça-feira, 12 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
O Estado Confessional e a Monarquia Constitucional
Quando a propaganda Republicana afirma que a Monarquia Constitucional falhou em separar a Igreja e o Estado, fala com rara, quase inédita, razão. Infelizmente para eles, essa razão não caminha no sentido que pretendem.
A encíclica "Rerum Novarum", que dá corpo à Doutrina Social da Igreja, foi entregue pelo Papa Leão XIII à comunidade católica em 1891. O governo português, que de toda a herança dos tempos do Absolutismo manteve, oportunamente, o beneplácito régio (antigo costume jurídico que fazia depender de autorização régia a publicação e circulação de documentos pontifícios em Portugal), optou por reter o beneplácito necessário à publicação do documento até depois de 1892. O conteúdo de interesse social desse documento revolucionário, especialmente na sua atenção ao direito de associação dos trabalhadores, opunha-se à doutrina liberal e aos interesses económicos dos poderes que sustentavam o regime constitucional.
Da mesma maneira, em 1884, é lançada a "Humanum Genus" pelo mesmo Papa, contra as sociedades secretas, resolvendo o governo da Monarquia "Fidelíssima" não permitir a sua circulação de todo, admoestando aqueles que a divulgassem, como aconteceu com D. Tomaz Gomes de Almeida, bispo da Guarda. Era este o Estado Confessional deposto em 1910.
Não admira pois que a maioria do País Católico não tivesse levantado uma palha em prol da defunta e decadente Monarquia do trapo azul e branco. A República seria um Inimigo, mas um inimigo visível e de intenções claras e sobejamente conhecidas. Não valia a pena, de todo, para a hierarquia da Igreja Católica gastar energias a trocar este novo obstáculo pelo cancro parasitário da Monarquia Constitucional.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
O Homem Evoliano
Excerto de um texto de Pietro Ferrari
Evola amava a cavalaria medieval, observando-lhe uma origem iniciática que remontava à Tradição Primordial pagã e ignorando assim o mérito da Igreja em ter temperado a conduta do Império Romano e os costumes ferozes dos bárbaros, incutindo-lhes o seu sentimento de devoção e de honra e limitando os dias de batalha com a "paz de Deus".
Evola contrapõeassim o herói ao santo (a sua falta de fé não lhe permitiu ver que o santo é já um herói!), o vencedor ao mártir (ainda que o mártir seja um vencedor por não ter renunciado à fé!), a honra à humildade, aderindo assim à leitura lendário do Graal transportado para a Ilha Branca pelos Hiperbóreos.
A Tradição Evoliana é evanescente e inacessível senão a um nível iniciático, ao contrário da Tradição Vivificadora, aquela entre pai e filho e que tem como horizonte um sentido de comunidade. O Homem Evoliano localiza-se ferozmente "de pé sobre as ruínas", mas sobre uma espécie de limbo, de interregno entre dois Mundos opostos e incomunicantes: o Mundo Moderno e o Mundo Tradicional, tornados radical e irredutivelmente em dois arquétipos abstractos.
Evola contrapõeassim o herói ao santo (a sua falta de fé não lhe permitiu ver que o santo é já um herói!), o vencedor ao mártir (ainda que o mártir seja um vencedor por não ter renunciado à fé!), a honra à humildade, aderindo assim à leitura lendário do Graal transportado para a Ilha Branca pelos Hiperbóreos.
A Tradição Evoliana é evanescente e inacessível senão a um nível iniciático, ao contrário da Tradição Vivificadora, aquela entre pai e filho e que tem como horizonte um sentido de comunidade. O Homem Evoliano localiza-se ferozmente "de pé sobre as ruínas", mas sobre uma espécie de limbo, de interregno entre dois Mundos opostos e incomunicantes: o Mundo Moderno e o Mundo Tradicional, tornados radical e irredutivelmente em dois arquétipos abstractos.
Pro aris et focis
(...) o patriotismo é um sublime egoísmo colectivo que supõe o sacrifício dos interesses individuais e, em certas ocasiões, da própria vida. E como o vai exigir aquele que tem que professar como dogma o sacrifício de tudo ao presente? Soldado, morre pela Pátria!... em vão se dirá. Soldado, morre pela Pátria! Se a Pátria é uma unidade religiosa e moral que junta em íntima irmandade as almas, e ata com divino laço a crença e a tradição comum das gerações, e cobre com amor de mãe sob as pregas do seu manto um povo que tece, como uma grinalda, a sua história para a coroar, então uma voz Augusta e Solene como o clamor de uma Raça sairá dos templos e dos lugares e dos sepúlcros dos antepassados gritando com o tom imperioso do dever e a doçura de um sentimento maternal: Vem morrer pela Pátria!... Deus assim O quer! pro aris et focis. E o soldado, encostando-se aos seus, murmurando uma oração e lançando um último olhar à Cruz do santuário, marchará resolvido e inflamado para o combate, e, ao ver brilhar perante os seus olhos e ondear ao vento o emblema da Pátria, poderá dizer com mais brio que os gladiadores de Roma: Os que vão morrer saúdam-te!Juan Vázquez de Mella -Estudio sobre la patria- (Obras Completas t.3 "Ideario")
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Caso a viagem tenha final
A Grécia foi a arca, Portugal a barca. O pensamento e o movimento. O movimento é o pensamento.
Portugal é o nome de Portugal e não de outra coisa fora dele. O nome está revelado, o que nos parece é que a plenitude significativa está em trânsito. Ainda não sabemos qual a profundidade deste símbolo, Portugal. Pode não ter, sequer, qualquer profundidade, para além do que nos é dado daber.
Contudo, as potências actuais do espírito português estão intactas: o lirismo, o sentido do metafísico (a ideia de que há mais mundo, e mais universo, e mais futuro...) a consciência do enigma, a tensão da saudade, alma da nossa natureza, e também uma literatura singular, e ainda, no princípio e no fim, a vocação de um pensamento filosófico que não se esgota no sistema, antes se recria mediante a arte poética.
Sendo Portugal o nome de Portugal, este nome en-se apresenta-se-nos também como um mesmo para o outro, quer dizer: o nome de Portugal não se esvai em si mesmo, e não vale para si mesmo, antes vale para o outro. Português já foi adjectivo para sinonimizar cristão, e Portugal já foi nome para a Igreja, sobretudo a Oriente, em que os povos evangelizados não distinguiam entre Portugal e Igreja, mas tudo isso era recebido através de um mesmo e único nome: Portugal. A revelação, aletêia, raro se resume a um acto instantâneoe decisivo. Em geral, a revelação é como uma viagem: vamos andando e vendo, vendo e andando, por forma que a revelação só se conclui no final. Caso a viagem tenha final.
Ora, a viagem simboliza, e de que modo, o sentido português de pensar todas as coisas. Dizia o poeta: «não evoluo: viajo». Abismal diferença filosófica entre evoluir e viajar! como se evolução fosse, alfim, mutuação na fixidez e, pois, um fixismo, e viagem fosse, alfim, transformação no movimento e, pois, um dinamismo! Por isso dizemos que tudo se acha por revelar. O que nos foi dado saber acerca de Portugal ainda é, apenas, um acerca, um ad cerca, uma aproximação, mas longe ainda de nos ser possível olhar para o dentro de dentro, para o santo dos santos. Aqui, e mais uma vez, nos parece uma similitude parcial com o povo de Israel. Também ele, cativo, progride, mas sem que lhe seja dado chegar ao interior. O Messias continua tão distante como no princípio do tempo. E todavia, para Israel, «o Senhor virá».N'Os Lusíadas, o Velho do Restelo é uma alegoria da Europa. Diz a Europa a Portugal: não saias de casa, não partas em viagem. Fica. E Portugal partiu. Mancebo da Europa, cavaleiro do Graal, aventureiro do sonho, viajeiro do infinito, sem saber para onde ia, nem se regressava, nenhuma dessas coisas fazia parte do jogo. Importante é viajar, descobrir, trazer as trevas à luz. O símbolo português é a âncora. Deveria ser o único símbolo aposto à esfera armilar na bandeira portuguesa. Toda a viagem lusíada acha símbolo na âncora, que não serve apenas para fixar o navio, mas serve para exprimir esperança.
Pinharanda Gomes, "Meditações Lusíadas", Lisboa: Fundação Lusíada, 2001. pp. 137.
A Gesta Portuguesa
Cortina realizada por Carlos Botelho para o bailado D. Sebastião, do Grupo coreográfico Verde Gaio
«O espírito e a tensão da controvérsia doutrinal da medievalidade, em que frequentemente se envolveram os teólogos cristãos, hebreus e islamitas, ressurge de uma forma vigorosa e nova no poema camoniano, com uma diferença; que, nas controvérsias medievais, o confronto era apenas doutrinal e que, no poema, a controvérsia se une à cruzada, porque a ideia de missionação se aliara ao acidente (mal necessário) da guerra santa. As guerras santas de portugueses e árabes exprimem o dado imediato do real, as condições temporais da obra divina, se feita por humanas mãos; as gestas conversórias exprimem o fundo que permanece, a mensagem de Igreja. Ali, os católicos são portugueses; que não deixam de ser portugueses por serem católicos, nem podem deixar de ser católicos quando actuem como portugueses. Deus trabalha com os homens que há e, no caso, havia portugueses. A gesta portuguesa apenas manifesta a aventura católica. O sujeito do poema é esta aventura; a gesta portuguesa vem junto ao sujeito, mediante o verbo: modifica o modo, mas não altera o sujeito.»
Pinharanda Gomes, "Meditações Lusíadas", Lisboa: Fundação Lusíada, 2001. pp. 186.
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