quarta-feira, 11 de abril de 2012

Monarquia e os Jovens

Recentemente uma jornalista do JPN entrevistou-me, e a outros jovens estudantes, para um artigo sobre a monarquia entre os jovens. Os resultados estão à vista aqui e aqui, com a ressalva que é afirmado num desses artigo que conclui a minha licenciatura em Direito, o que não é verdade.

Coloco aqui na íntegra no blogue as minhas respostas.


- Como e quando entrou em contato com a causa monárquica?

O primeiro contacto com a ideia monárquica costuma ser dado em casa. No meu caso, apesar de conhecer alguns antecedentes familiares monárquicos, o meu primeiro contacto com a monarquia, de um ponto de vista intelectual e teórico, deu-se no meu primeiro ano de Direito, no seguimento do estudo de Ciência Política. No entanto, o meu pensamento monárquico só começou a conhecer uma deriva "pouco comum" a partir da leitura do livro de Erik Kuenhelt-Leddihn, "Liberty or Equality".

- O que o atraiu na Monarquia, e porque é que considera que seria uma melhor forma de governo?

O que atrai na monarquia é o facto de, ao contrário de todas as restantes formas de governo, fazer sentido. É mais fácil explicar a uma criança o dever de honra, fidelidade e amor a uma figura paternal como o rei do que ensinar o mesmo tipo de sentimentos por um órgão de soberania eleito com determinada regularidade, seja esse órgão composto por um presidente ou por um "palramento". É claro que a contra-argumentação passa por dois pontos essenciais: há aqueles que são plenamente contrários à paternalidade, e exigem o total relativismo e impessoalidade das relações políticas (e até familiares!), como se a constituição política de uma nação fosse apenas o compêndio da vontade das gerações cotemporâneas. Com esses não há discussão possível, pois o ponto de discórdia é uma questão de princípios morais. A outra contra-argumentação surge da possibilidade de o Rei não estar à altura dos seus deveres políticos "paternalistas". Ora, da mesma maneira que não existem pais e mães perfeitos, não existem soberanos perfeitos. É o fundamento moral da monarquia que a justifica: o amor filial que temos ao nosso país surge assim com uma representação pessoal, familiar e típica do quadro de valores que a maioria da população, por circunstâncias históricas e humanas, partilha.

- Tens muitos amigos monárquicos, ou nem por isso? Como reagem os outros colegas ao facto de ser monárquico? Compreendem a sua opção?

É mais fácil para um monárquico ter inimigos monárquicos do que amigos monárquicos. Uma vez que os chamados "monárquicos" e as "causas monárquicas" são receptáculos de frustrações e ambições desmedidas de alguns meninos das classes altas, o ambiente habitual nesses lupanares raramente é coisa saudável para a criação de uma teoria intelectual portuguesa, popular e coesa. O crescimento actual das Reais Associações deve-se apenas ao actual mal estar nacional, económico e social, que consegue forçar o típico "monárquico" a engolir alguma das suas "manias" e a juntar-se em comunidade com outros como ele. No entanto, o número de tradicionalistas entre as hostes monárquicas tem vindo a aumentar, com um crescimento muito pequeno mas sustentável.
Em relação à segunda pergunta, as reacções não são muito díspares: ou ignoram, ou se opõem. Já tive de me afastar de um evento devido ao facto de a presença de um "monárquico reaça" os incomodar mais do que a presença de um comunista.

- Como é que imagina um Portugal monárquico? Era possível a implantação de um regime monárquico actualmente em Portugal? De que forma seria útil para resolver a crise económica, política e social que o País atravessa?

Não imagino Portugal de outra forma sem ser monárquico. De tal forma é assim, que o que existe hoje é a República Portuguesa e não Portugal. A implantação de um regime monárquico é tão possível quando a implantação de um regime parlamentar, presidencialista ou tribalista. Com a propaganda certa, com o apoio do exército e da conjuntura económica tudo se faz. Pode ser instaurado um regime monárquico em Portugal com o acordo das restantes potências mundiais, basta querer e querer com muita força. É claro que isso não resolverá, de maneira nenhuma, os problemas do país. Esses problemas não são meramente económicos ou sociais. Há toda uma recuperação do espírito português que tem de renascer e fortalecer, e a consequência de se ensinar à Pátria aquilo que ela significa é a monarquia. Ao contrário dos constitucionalistas, não vejo a monarquia como o fim do problema em que vivemos, mas como o fim da solução que precisamos.

- Está a ponderar apenas apoiar a ideologia ou intervir ativamente num futuro próximo?

Não pretendo fazer nada em prol da restauração da Monarquia porque o país não está preparado para uma Monarquia. Trocar o Presidente da República por um Corta-Fitas honorário e hereditário (nem se pode dizer hereditário quando a sucessão do rei depende, exclusivamente, de uma lei sucessória disponível a alterações pelo Parlamento) não é restaurar a Monarquia. Aquilo que eu pretendo fazer, e aconselho que outros monárquicos como eu o façam, é que se apliquem nas suas áreas de estudo, sejam bons profissionais e procurem pelo exemplo dar a este país aquilo que ele precisa. Questões de Coroas e Princesas são claramente secundárias quando estamos perante um país a viver num completo interregno histórico, sem "rei nem lei, nem paz nem guerra".

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves