domingo, 31 de julho de 2011

Crítica de concerto XIV

25 de Julho / Éric le Sage - Piano /Festival Internacional de Música da Póvoa do Varzim
Robert Schumann
Primeira Parte: Cenas Infantis Opus 15 --- Fantaisa Opus 17
Segunda Parte: Estudos Sinfónicos Opus 13
Extra: Previsivelmente, uma das peças do ciclo Davidsbundlertanze Opus 6

Com uma postura em palco muito direita, quase sem emotividade visível, um perfil parecido ao de Sequeira e Costa, fiquei logo imergido nos anos 20 do século passado num qualquer sarau parisiense, dada o timbre que revelava o Fazioli, marca do piano. Sem nunca exagerar, na primeira parte, nas dinâmicas mais fortes, foi revelando uma gama muito grande nesse aspecto e uma enorme facilidade em mostrar o que de mais importante lhe impelia a música no momento da forma mais subtil possível.

Ele precisava de outro piano, ainda mais sensível. Ou então não, dado que na segunda parte, respondeu de forma muito convincente ao ímpeto quase destruidor do pé direito do intérprete, a ser levantado a grande altura, para desespero do pedal de sustentação, que já rangia por todos os lados.
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Lembrou-me um concerto na mesma sala, com a mesma peça na 2ª parte, em que quase no final do Estudos o pedal CAIU com estrondo provocado por esforço desequilibrado e exagerado do pé direito, com o pianista a vergar-se para tentar arranjá-lo e, de seguida, a perguntar "Há algum afinador na sala?". E não é que NÃO havia? Uma autêntica vergonha para a casa, mas principalmente para os afinadores, que se gabavam de serem "de grande gabarito".
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Quando o pianista Éric le Sage chega à última peça das Cenas Infantis, cujo nome é "Fala o poeta" de acordo com a tradução de Vianna da Motta, pensei logo: "Já?! Ainda agora começou e já chegámos ao fim." E porquê?
Porque ele conseguia algo muito raro, que é a maneira de conduzir um discurso de forma a que pareça una e única, em que nos é dada uma interpretação que parece sair daquele preciso momento e não formatada. Toda a estrutura é preservada e o pormenor revelado com precisão.
Isto é, não andou a massacrar-nos com o baixo se ele é recheio harmónico; não expunha em demasia uma melodia calma e dormente; todo o virtuosismo acontecia sem "caretas".
Concerto de sala praticamente cheia.

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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves