domingo, 31 de julho de 2011

Crítica de concerto XIV

25 de Julho / Éric le Sage - Piano /Festival Internacional de Música da Póvoa do Varzim
Robert Schumann
Primeira Parte: Cenas Infantis Opus 15 --- Fantaisa Opus 17
Segunda Parte: Estudos Sinfónicos Opus 13
Extra: Previsivelmente, uma das peças do ciclo Davidsbundlertanze Opus 6

Com uma postura em palco muito direita, quase sem emotividade visível, um perfil parecido ao de Sequeira e Costa, fiquei logo imergido nos anos 20 do século passado num qualquer sarau parisiense, dada o timbre que revelava o Fazioli, marca do piano. Sem nunca exagerar, na primeira parte, nas dinâmicas mais fortes, foi revelando uma gama muito grande nesse aspecto e uma enorme facilidade em mostrar o que de mais importante lhe impelia a música no momento da forma mais subtil possível.

Ele precisava de outro piano, ainda mais sensível. Ou então não, dado que na segunda parte, respondeu de forma muito convincente ao ímpeto quase destruidor do pé direito do intérprete, a ser levantado a grande altura, para desespero do pedal de sustentação, que já rangia por todos os lados.
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Lembrou-me um concerto na mesma sala, com a mesma peça na 2ª parte, em que quase no final do Estudos o pedal CAIU com estrondo provocado por esforço desequilibrado e exagerado do pé direito, com o pianista a vergar-se para tentar arranjá-lo e, de seguida, a perguntar "Há algum afinador na sala?". E não é que NÃO havia? Uma autêntica vergonha para a casa, mas principalmente para os afinadores, que se gabavam de serem "de grande gabarito".
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Quando o pianista Éric le Sage chega à última peça das Cenas Infantis, cujo nome é "Fala o poeta" de acordo com a tradução de Vianna da Motta, pensei logo: "Já?! Ainda agora começou e já chegámos ao fim." E porquê?
Porque ele conseguia algo muito raro, que é a maneira de conduzir um discurso de forma a que pareça una e única, em que nos é dada uma interpretação que parece sair daquele preciso momento e não formatada. Toda a estrutura é preservada e o pormenor revelado com precisão.
Isto é, não andou a massacrar-nos com o baixo se ele é recheio harmónico; não expunha em demasia uma melodia calma e dormente; todo o virtuosismo acontecia sem "caretas".
Concerto de sala praticamente cheia.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pequeno retábulo da minha pessoa (Crónica VIII)

Palavras a mais
Livros a mais
Leitura a menos
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Quero ouvir mais pássaros
Ainda mais gotas de chuva
ainda mais hebraico, japonês
ainda mais galaico-português.
Ainda mais rádio
Ainda menos televisão.
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Liberdade a menos
Libertinagem a mais
Respeito a menos
Despeito a mais
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Fado a mais - Não havia estrelas no céu, nem gaivotas a voar, nem peixes a nadar, na Lua por companhia - O rio, esse rebelde grande demais, tinha-se tornado numa suave cadência perfeita...
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Quero menos, muito menos, grupos de trabalho num comité, inserido no instituto, sob a alçada duma secretaria, com um programa para um projecto, para fazer um relatório de modo a avaliar uma proposta.
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O Homem que perdeu tudo sem nunca ter vivido.
Tudo perdia,

tudo era nada

e nada fazia.

Tudo valia.

Castelos de areia, flores numa floresta, equívocos e mal-entendidos.

Tudo isto são tretas.


Fim.

...do texto.

...da citação.

...da crónica.

da rubrica.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Guerrilheiro - 1852



Ei-lo erguido no topo da serra,
Recostado no seu arcabuz:
De pequeno criado na guerra,
Não conhece, não vê outra luz.
Viu a terra da Pátria agredida,
Ergueu alto seu alto pensar:
- Pula o sangue, referve-lhe a vida
Vinde ouvir o seu rude cantar.

Eia, sus, oh! meus bons camaradas,
Desse sono por fim despertai;
Além tendes vossas espadas,
Eia, sus, bem depressa afiai.
Vai a terra da Pátria vencida,
Quem da luta se pode escusar?
- Pula o sangue referve-lhe a vida
Vinde ouvir o seu rude cantar.

Que me siga quem tem a vaidade
De ouvir balas sem nunca tremer,
Que me siga quem quer liberdade,
Quem não teme na luta morrer.
A estranhos a Pátria vendida
Pede braços que a vão libertar.
- Pula o sangue referve-lhe a vida
Vinde ouvir o seu rude cantar.

Já povoam os ecos da serra
Os sons rudes do altivo clarim;
E d'envolta com os gritos da guerra
Vão em roda cantando-lhe assim:
"Eia, avante, que a Pátria agredida
Quer seus filhos na luta encontrar.
- Pula o sangue referve-lhe a vida
Vinde ouvir o seu rude cantar.

Era noite, mas noite calada.
Sem estrelas no céu a luzir;
Fôra noite dos santos fadada
Para a terra da Pátria remir.
"Se esta luta por nós for vencida
Pode a terra da Pátria folgar"
- Pula o sangue referve-lhe a vida
Vinde ouvir o seu rude cantar.

Adeus serra, calada gigante,
Erma filha do meu Portugal;
Adeus terra que inspiras distante,
Este canto sentido e leal!
"A estranhos a Pátria vendida
Pede braços que a vão libertar".
- Pula o sangue referve-lhe a vida
Vinde ouvir o seu rude cantar. II

Não faltava ninguém no combate
Não faltava na luta ninguém
Só depois - já depois do embate
Rareava nas filas alguém.
Foi acção por acção decidida;
Vinde os mortos no campo contar.
Pula o sangue referve-me a vida
Vinde ouvir-me meu triste cantar.

Era dia: nas armas luzentes
Vinha em chapa batendo-lhe o sol;
Mas nem todos dos lá combatentes,
Viram brilho do imenso farol.
Pela terra de sangue tingida
Mais de um bravo se via rojar.
Pula o sangue referve-me a vida
Vinde ouvir-me meu triste cantar.

Vencedoras as quinas ficaram
Vencedoras ainda uma vez,
Mas de pranto depois as regaram
Quem lhes dera valor português.
Lá ficara uma espada esquecida
Sem que o dono a pudesse zelar.
Pula o sangue referve-me a vida
Vinde ouvir-me meu triste cantar.

Desabando do topo da serra,
Lá deixara o fiel arcabuz:
De pequeno criado na guerra,
Viu na guerra extinguir-se-lhe a luz.
Vira a terra da Pátria agredida
Ergueu alto o seu alto pensar.
Pula o sangue referve-me a vida
Vinde ouvir-me meu triste cantar.

sábado, 23 de julho de 2011

Crítica de concerto XIII

18 de Julho / Recital Final de Composição / Café-Concerto ESMAE

Segundo o início do Programa:

"Morphing ... onde tudo se transforma. Podemos modificar gradualmente as imagens que a nossa memória cria, mas mantemos a essência do objecto. Neste concerto procuramos moldar o som, criando uma textura orgânica que se vai desintegrando de forma pontilhada.
Perdemos os acontecimentos, respiramos os sons, vivemos as imagens...e a nossa mente?

...desaparece..."

Frames#87: clarinete, electrónica em tempo real e vídeo (compositor: Igor Silva)

Ondas de memória: ensemble (comp. Diogo Carvalho)

Monólogo V: guitarra portuguesa (I. S.)

Twelve Gardens nº1, 2 e 3: piano e vídeo (D. C.)

As palavras não mudam: flauta e electrónica (I. S.)

Contrastes: violoncelo e piano (D. C.)

Slow motion: electrónica e vídeo (D. C.)

Clepsydra: grande ensemble e electrónica (I. S.)

Excelente grafismo para capa das notas de programa. Fantasia científica é o que me ocorre.

Excelentes textos elucidativos das obras.

1ª peça - Tinha momentos em que parecia um elefante a soar do clarinete de Frederic Cardoso, porque a peça era mesmo assim escrita. Aquilo era um "calhau" para o intérprete. O vídeo era, por vezes, abusivo.

2ª - Percebi ainda melhor, com outro olhar, a totalidade da obra, a imagem de fundo (uma gare de metro e seus carris) também ajudou. Mas a minha opinião já tinha sido muito boa (ver crítica aqui). Senti mesmo pena por alguém, indo de encontro ao "objectivo - haver uma sensação de desconforto e a ansiedade" (Nota de Programa).

3ª - Brutal, Som fantástico, ritmos alucinantes para a tradição auditiva do repertório daquele instrumento.

4ª - Não senti nada.

5ª - Acho que podia ser mais curta, já que os seus motivos eram interessantes, principalmente com a qualidade tímbrica da flauta, mas que a dada altura, paravam no tempo.

6ª - Esta é que não percebi mesmo nada. Vá lá, senti estranheza.

7ª - Gostei das imagens das flores em diversos ângulos, embora gostasse delas em cores vivas, mas isso talvez fosse contra a estética e gosto da ideia intrínseca à peça. Por acaso, até achei a peça andante e não lenta.

8ª Adorei. Gostei ainda mais do que da primeira vez .

Notas: Há pessoas que pensam que estão a aplaudir em Budapest. Uma salva de palmas de cada vez. E alguém se importa de desligar as câmaras frigoríficas? Lá pró raio do barulho. Acho que alguém se esqueceu de como se abriam as cortinas ;) Foi engraçado.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Recordações de um Concerto ( IV ) (Festival Internacional de Música de Espinho - III)

16 de julho ; Sequeira Costa - Piano
Primeira Parte : Frédéric Chopin - Fantasia Opus 49
Balada nº4 Opus 52
Berceuse Opus 57
Barcarola Opus 60
Tarantela Opus 43
Segunda Parte: Claude Debussy - Suite Bergamarsque
Maurice Ravel - Jeux d'eau
Franz Liszt - Au bord d'une source
Lenda de São Francisco de Assis caminhando sobre as ondas

Extras: Brahms - Intermezzo
F. Chopin - Valsa Opus 64 nº2
Chopin - outra Valsa (de que já não me lembro o Opus)

Pouco há a dizer, poucas são as palavras para caracterizar tal recital, tais interpretações. Quando tal acontece, de forma absorta e de profundo respeito pela elevada mestria, o crítico deve remeter-se ao silêncio. O crítico, neste caso, já tinha ouvido o programa exactamente igual, com os mesmos extras, só podendo tomar o plano da comparação, dizer que que foi diferente.
Desta vez tivemos um pianista mais cansado, com mais perdas de notas, mas com mais sorrisos e aclamações de pé. Foi um concerto mais real, o anterior mais elegíaco. Ambos geniais.
Casa cheia.
Alma cheia.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Non Nobis


"War must be, while we defend our lives against a destroyer who would devour all; but I do not love the bright sword for its sharpness, nor the arrow for its swiftness, nor the warrior for his glory. I love only that which they defend." Faramir, son of Denethor.
J.R.R. Tolkien, The Two Towers

Crítica de concerto XII (Festival Internacional de Música de Espinho - II)

9 de Julho, David Geringas - violoncelo / Pedro Burmester - Piano
Primeira Parte:
Johann Sebastian Bach - Suite nº3, BWV 1009 (violoncelo solo)
Gustav Mahler - Canções das crianças mortas (transcrição para violoncelo e piano de Viktor Derevianko)
Segunda Parte:
Franz Schubert - Sonata "Arpeggione", D 821
Robert Schumann - 3 Peças de Fantasia, Opus 73

Extras:
Piotr Tchaikovsky - Nocturno
Peça de outro compositor russo
Rimsky-Korsakov - Voo do Moscardo ("The Flight of the Bumble Bee") - versão piano e cello
Frédéric Chopin - Andamento lento da sonata para piano e cello, Opus 65


Entrada fulgurante do violoncelista, a solo, com muita energia e direcção, revelando os momentos de maior tensão harmónica sem pedantismo. Revelando grande facilidade técnica e gosto/prazer em arriscar no palco, foi uma interpretação muito interessante, diferente mas com estrutura, evidenciada na forma modelar em como se desenrolavam as danças no tempo com seus andamentos próprios e algo voláteis.
Depois, foi a entrada da Morte, uma peça que me fez revirar as vísceras de tão pesada de carácter, expectante procura de chão. A ouvir de novo, completamente só.
Segunda Parte:
Clara demonstração de como um pianista é bom. Tendo este confirmado nos bastidores, não houve um único ensaio igual, o violoncelista fazia tudo diferente, articulações, andamentos, dinâmicas; ele moldava tudo segundo a "sua" inspiração/atmosfera. E o pianista a demonstrar uma enorme segurança, clarividência no encaminhar das frases e uma técnica irrepreensível.
Eram sublimes os seus pianíssimos, o seu contraste para com a fogosidade do violoncelista.
Como extras, momentos para brilharem, para "darem ares" de delicodoce - neste caso, com bom gosto - e uma atitude super descontraída por parte do pianista nos agradecimentos.
O virador de páginas - igual ao concerto anterior - tanto virava em cima da hora como a seguir ficava "horas" de pé à espera. Vestido de forma igualzinha, calças de ganga e sapatilhas, com camisa preta.
Casa quase cheia como um Bloco, com mais pessoas à Esquerda.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crítica de concerto XI (Festival Internacional de Música de Espinho)

8 de Julho, Concerto de Música de Câmara

Renaud Capuçon - violinista

Frank Braley - pianista


Ludwig van Beethoven

Primeira Parte: Sonata n.8 Opus 30 nº3 -------------- Sonata nº5 Opus 24

Segunda Parte: Sonata nº7 Opus 30 nº2

Extra: segundo andamento de outra sonata de Beethoven (o duo gravou há pouco a integral)


As minhas impressões foram de positiva surpresa. Surpresa, por exemplo, na perspectiva de evidenciar os motivos rítmicos, pelo pianista, de forma "amaneirada", como que mostrando tiques que teriam sido próprios da época (com toda a subjectividade daí adjacente, quer na análise auditiva, quer na análise a priori do contexto). Dava muito carácter às frases com diferentes ataques para diferentes acentuações e staccatos curtíssimos, mas que cortavam em excesso a noção de frase.


Outro exemplo será o excessivo vibrato do violinista, bom para finais de frase mas a despropósito nos seus inícios. Isto dava demasiado ênfase a cada nota, sendo que revelava ao mesmo tempo conforto técnico e de afinação.

Conforto era o que demonstrava também nos seus movimentos, mas todos com sentido e conexão com o significado da música, enquanto que o outro era pindérico, ao ajeitar as páginas, o mexer delicadamente e "em câmara lenta" o cabelo com gel, só gel, o olhar derretido para o parceiro. É isto que se costuma chamar de "intérprete expressivo" sem se saber o real valor desse epíteto.


Aborrecimento, onde?


2ª parte começa por ser o início do aborrecimento, porque aquilo que antes se tinha revelado frescura pela sua novidade, resvalou para o chato, para o "piroso" como alguém já o disse. Passa-se a notar a falta de uma estrutura mais abrangente, completa e perceber para onde ia música, mesmo que, de tão anestesiados que estávamos, já não pedíamos isso a 100%. O extra não ajudou à festa, com aquele "delicodoce". O público adorou, principalmente os (e as) violinistas.

Virador de páginas com pouca noção da roupa para levar e mais não digo.

Programa de concerto normal, ou seja, a dizer o mesmo, aquilo que vamos ouvir mas não o que podemos perceber das obras e ouvir algo como novo, coisa aliás tremendamente difícil num tempo de grande plêiade de gravações, maior conhecimento do público e a tradição de partir desse pressuposto para não dizer nada, pois dizer que uma música é "muito expressiva" não quer dizer quase nada. O público já parece estar acostumado a não se conseguir surpreender com as novidades tonais, rítmicas, per si.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Portugal a entristecer



Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


É a Hora!

Juan María Bordaberry


Faleceu no dia 17 de Julho o antigo ditador uruguaio JM Bordaberry. Em louvor de sua memória só posso aconselhar as palavras de Marcos Pinho de Escobar, no Jovens do Restelo.

Entre bombas e tiros não tardou em comprovar a incompatibilidade entre o exercício da liberdade "liberal" e a manutenção da ordem e da paz no interior da sociedade. É que para impor a ordem e assegurar a paz era necessário restaurar a autoridade... Apoiado nas Forças Armadas Bordaberry atacou em cheio os três mitos do sistema: a soberania do povo, o sufrágio universal e a partidocracia. Fechou o Parlamento e enviou os profissionais do palratório descansar à casa, suspendeu os partidos políticos, introduziu princípios orgânicos e corporativos, garantiu - à moda de García Moreno - a liberdade para o bem e para os praticantes do bem, e combateu o resto. Restaurou a autoridade, e com ela a ordem e a paz, condições indispensáveis para uma sociedade empreender o caminho do autêntico bem comum. Purgando-se do liberalismo da juventude Juan María Bordaberry percorreu um caminho longo mas firme que o levou à Tradição Católica e Monárquica - esta na sua vertente Carlista. Suas três Verdades foram: Deus - Pátria - Rei. "Deus, porque não podem existir instituições que não se fundamentem no direito natural, o que supõe rechaçar as soberbas construções do homem que a contradigam; Pátria, porque a sociedade dos homens tem que professar um amor profundo e permanente ao lar, de onde extrai a força para resistir aos embates do mal; e Rei, porque quem é que pode imaginar uma autoridade que não tenha de prestar contas a Deus?". Em 1976 a alta cúpula militar recusa a institucionalização da nova ordem política projectada por Bordaberry, demitindo-o da presidência e tomando para si o comando do Estado. E o que se viu, mais do que o regresso aos erros e vícios do passado, foi a conquista do Estado pelo marxismo. Meus pensamentos e minhas orações estão hoje, muito especialmente, com este católico exemplar, homem íntegro, que deu tudo de si para reconduzir a sociedade cisplatina no caminho do bem. A Bordaberry bem se ajustam as palavras paulinas: "Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé". Vencido no mesquinho mundo dos homens, não tenho dúvida de que já recebeu a recompensa infinita na Paz de Deus.

domingo, 17 de julho de 2011

Red Tradicionalista

Este blogue está agora linkado num compêndio de blogues de pendor tradicionalista. Este enclave ibérico na blogosfera conta, além d'o espectador portuguez, com outros blogues nacionais, como o MOVIMENTO LEGITIMISTA PORTUGUÊS, o Portugal Tradicionalista e o lendário Sagrada Hispânia.

A todos os blogueiros portugueses que desejem partilhar, sem peias e sem nacionalismos toscos, as suas opiniões com os povos dos reinos vizinhos, basta aceder à Red Tradicionalista, e pedir a ligação.

Os Alunos da Indiferença

Os Alunos do Liberalismo insurgem-se contra aquilo que lhes parece ser um atentado à sua forma pragmática de vida. Quando a Universidade Católica visa estabelecer um comprometimento entre estudantes e professores para a criação de hábitos de indumentária que dignifiquem a dita instituição, insurgem-se os novos Marqueses de Sade. É ver-nos libertados dos nossos preconceitos:
Engana-se quem acha que a forma de vestir é um assunto marginal ao bom funcionamento da UCP, sendo esta uma universidade e uma instituição eclesiástica. É do senso comum que as melhores universidades mundiais aplicam rigorosos códigos de vestuário aos seus alunos e funcionários contratados. Veja-se o caso anglo-saxónico de Oxford, Cambridge, Harvard ou MIT. Estas faculdades de topo obrigam, claramente, as pessoas que as frequentam a vestirem-se do modo mais impecável possível. Não se vêem, por lá, alunos com calças de fato de treino, chinelos, calções ou t-shirts. Aliás, o que é isso de estar confortável quando o mais importante é estudar?
É óbvio que, para o jacobinismo liberal/conservador/democrata-"cristão", a única função de uma UCP é providenciar educação a meninos que queiram andar vestidos de chinelos nas aulas. Que nos interessa a eles, direcção de uma Universidade Católica, que um jurista seja bom pai, bom cidadão, se souber na ponta da língua o Código Civil? Ou que um ex-aluno viva conforme padrões de dignidade, desde que ganhe montes de dinheiro? Toda a gente sabe, ensinaram-nos os Alunos do Indiferentismo, que "dignidade" é um conceito abstracto, enquanto que o dinheiro, especialmente para realização pessoal, é um bem concreto - e que mais há na vida além daquilo que reluz, pergunta o leitor liberal? Ainda bem que, perante a ignorância dos educadores e dos pedagogos experientes da UCP, temos o apoio intelectual dos alunos, ajudando-nos a viver a construção de uma sociedade mais livre.

E, claro, a revolucionar conceitos, largando as grilhetas da etimologia ou até do mero senso comum.
Desde logo, arbitrariedade nos critérios de ''bem vestir'', possibilidade de abuso de poder de quem determina o que é ''vestir bem'', censura à liberdade de expressão no que vestir e, mais grave, o incentivo à delação e à denúncia. No fundo, a UCP deve querer criar uma polícia de bons costumes. Tenho medo é de saber quem vão ser os agentes da autoridade.
Queriam, com toda a certeza, os alunos do Idiotismo, que a direcção especifica-se, exaustivamente, a profunda ontologia de conceitos como "vestir bem", para que os nossos proponentes do livre-mercado e do amor-livre se sentissem menos confusos e menos afectados por tirânicas incógnitas. Deverá também, no mesmo documento onde explicita o que é "vestir bem", a instituição católica se dignificar a definir outros conceitos nebulosos, como a "dignidade", a "comunidade académica" e por último, para que as mulas do senhor Hobbes não se sintam oprimidas, que finalmente expliquem a estes estudantes da Católica o que quer dizer, em pouco mais de 600 páginas, "instituição da Igreja".

O que é bom em discutir com liberais é a oportunidade que temos, de vez em quando, em lhes pregar um tronco destes na testa. Dois dias depois, no entanto, acaba por cair outra vez.

Os alunos do Liberalismo, arvorados em defensores da Liberdade, mais não fazem que defender a substituição de uma Ética por outra. A que combatem, a que nasce dos ensinamentos de Cristo, é o novo crime a perseguir, a nova forma de vida a destruir. Tudo no nome de uma Liberdade que está, obviamente, intrínseca e unicamente ligada à forma de vida e linha de pensamento que possuem. Tudo o que se situa além disso é um repugnante manifesto de um passado vergonhoso.

Manifesta-se também o presente paladino da Liberdade contra a perspectiva de uma censura, aparentemente existente no inofensivo ponto três do comunicado da UCP.
Contra esta censura apela-se, obviamente, à censura da dita prática promulgada pela instituição responsável pelo ensino naquele estabelecimento. Mas não lhe chamemos censura; para tal, teríamos de ensinar aos Alunos do Liberalismo o significado de Censura, e esses eles já sabem - é tudo o que lhes proíba de fazer o que quiserem. E morram os dicionários.

Já para não falar na imensa justiça com que se comparou a directiva da UCP com uma instituição histórica que exercia funções judiciárias. Estes meninos bebem.
Um dia destes teremos a liberalidade portuguesa a cortejar o seu esplendor na Sluts Walk Lisboa. Ou será que o CDS/PP ainda não gosta dessas coisas?

terça-feira, 5 de julho de 2011

Convite a um Concerto (II)

Ora viva,

Aqui faço um convite a assistir ao Concerto de Piano solo que se irá realizar dia 7 de Julho, quinta-feira, pelas 21:30h, no Ateneu Comercial do Porto.

Tocarei por esta ordem :

Frédéric Chopin: Balada Nº1 em sol menor, Opus 23

Joaquim Gonçalves dos Santos: Prologus, 6 Impressões musicais do Evangelho de São João

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Intervalo com Porto d'Honra a ser servido aos ouvintes

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Robert Schumann: Fantasia "Kreisleriana" Op. 16
- Äußerst bewegt;
- Sehr innig und nicht so rasch;
- Sehr aufgeregt;
- Sehr langsam;
- Sehr lebhaft;
- Sehr langsam;
- Sehr rasch;
- Schnell und spielend.

Filipe Cerqueira - Aluno de 1º Ano de Mestrado em Interpretação Artística, na classe do Professor Pedro Burmester

Tese de Mestrado versada sobre a obra para piano solo do Padre e Compositor cabeceirense Joaquim Gonçalves dos Santos

The Passing of Old Austria

Faleceu recentemente aquele que, entre valiosos estudos e contribuições intelectuais, era admirado por ter sido o único deputado europeu que nunca precisou de intérprete, pois conhecia todas as línguas faladas no Parlamento Europeu da sua altura. Tal era a sua preparação para o cargo que nunca veio a assumir, o de Kaiser da Áustria-Hungria.

Seiner Kaiserliche und Königliche Hoheit Erzherzog Franz Joseph Otto Robert Maria Anton Karl Max Heinrich Sixtus Xavier Felix Renatus Ludwig Gaetan Pius Ignatius, requiescat in pace.

sábado, 2 de julho de 2011

only to bring him to life



“I am going to hold a pistol to the head of the Modern Man. But I shall not use it to kill him–only to bring him to life.”

G.K. Chesterton, in Manalive

A Liberdade do Polvo

in A Cigarrilha de Chesterton, via El Matiner

La antigua Economía liberal decía, refiriéndose al Estado en sus relaciones con el orden económico: Dejad hacer, dejad pasar. Y la Economía católica contesta: No; esa regla no se ha practicado jamás en la Historia. Los mismos que la proclamaron no la han practicado nunca; y es un error frecuente el creerlo así, en que han incurrido muchos, y entre ellos sabios publicistas católicos, por no haber reparado que la antigua sociedad cristiana estaba organizada espontáneamente y no por el Estado. Aquella sociedad había establecido su orden económico, y no a priori y conforme a un plan idealista, sino según sus necesidades y sus condiciones; y cuando el individualismo se encontró con una sociedad organizada conforme a unos principios contrarios a los suyos fue cuando proclamó la tesis de que no era lícito intervenir en el orden económico. Lo que era precisamente para derribar el que existía, por medio de una intervención negativa, que consistía en romper uno a uno todos los vínculos de la jerarquía de clases y corporaciones que lenta y trabajosamente habían ido levantando las centurias y las generaciones creyentes. Porque ¿qué intervención mayor cabe que romper una a una todas las articulaciones del cuerpo social y disgregarle y reducirle a átomos dispersos, para darle, a pesar suyo, la libertad del polvo, a fin de que se moviese en todas direcciones según los vientos que soplasen en la cumbre del Estado?

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Adenda: lembrei-me disto

"O liberalismo está para a Liberdade como o anarquismo para a Anarquia."
- Ernst Jünger, Eumeswil

Luz


Nem tudo o que luz é ouro;
Nem todos os Caminhantes estão perdidos...


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"(...) as leis não têm força contra os hábitos da nação; (...) só dos anos pode esperar-se o verdadeiro remédio, não se perdendo um instante em vigiar pela educação pública; porque, para mudar os costumes e os hábitos de uma nação, é necessário formar em certo modo uma nova geração, e inspirar-lhe novos princípios." - José Acúrsio das Neves